INTRODUÇÃO
Traduzido do Livro “DISCÍPULOS E MESTRES, ou Os Fatores e Benefícios da Iniciação Espiritual. Original em espanhol. Obra de meditação para as almas sinceras, que peregrinam em busca da Verdade e estão dispostas para a autossuperação. Por OM. CHERENZI LIND. O Tibetano.
A linha que o Discípulo há de seguir é algo verdadeiramente transcendental, mas até agora esteve muito confusa, devido a que nunca se deixou claramente estabelecido quais são as obrigações do Discípulo e do Mestre, os nexos que os unem e a maneira como se relacionam e cumprem seus respectivos deveres.
Malfadadamente, desde que se fala de teosofia e ocultismo, o conceito a respeito dos Mestres e Discípulos sofreu grandes transformações, e não para o melhor, atribuindo-se aos primeiros caracteres fantasmagóricos e por demais caprichosos. Isto contribuiu para desajustar a mente de muitos investigadores sinceros e amantes da verdade. A própria Iniciação foi completamente alterada, disfarçada, variada em forma grosseira e em desacordo com a verdade.
Por outro lado, a Espiritualidade e o Ocultismo, em suas múltiplas e diferentes formas, a saber: Yoga, Brahma Vidya, Hermetismo, Logosofia, etc., foram desvirtuados por completo de seus verdadeiros fundamentos e finalidades, caindo em mãos de megalômanos, charlatães e impostores de todas as cataduras concebíveis, os quais os levaram ao maior desprestígio, utilizando-os como pasto para as mais irrisórias e desconcertantes explorações da credulidade humana, em benefício exclusivo de paixões inconfessáveis. Em tais condições, é óbvio que os Princípios Universais foram absolutamente descartados, ou então, disfarçados ou substituídos por grosseiros conceitos circunstanciais. Por isso é que a dignidade humana teve tanto que sofrer, em meio à superstição e ao fanatismo, de todas as laias, promovidos por autoconsagrados "gurus", "missionários de Deus" ou "Iluminados Perfeitos", que, como constância de sua sabedoria, mostram falsos pergaminhos; improvisados autocratas do infinito, cuja irresponsabilidade moral só é comparável com a imensidade de sua ignorância, de suas paixões grotescas e egotismos inconfessáveis.
Fazia-se, pois, indispensável uma exposição ampla a este respeito. E é o que vamos fazer nas páginas seguintes.
O fato da Iniciação é o próprio fundamento da genuína Espiritualidade. Não há verdadeira Yoga ou Ciência da Vida em suas diferentes variações, nem conquista superativa, digna de menção, sem a autêntica atualização dos valores que caracterizam tanto ao Discípulo ou Iniciando nos Mistérios da Vida Universal, como ao Mestre ou Iniciador do Verbo Eterno, que é a única Verdade possível.
A Iniciação Esotérica consiste em liberar a consciência de seus embotamentos e dos encadeamentos mundanos. Muitas formas menores de iniciação foram idealizadas por charlatães como o suposto Conde de Cagliostro e Elias Ashmole, que delirava com graus de Maçonaria; o Imperator Spencer Lewis, Barão Munchausen do misticismo, que fundara em 1916 em Nova York a "Antiga Mística Ordem Rosa Cruz", e o Bispo que se consagrara a si mesmo como Raio de Deus, C. W. Leadbeater, junto com sua colega e amiga, Annie Besant, Presidente que foi da Sociedade Teosófica. Mas essas pretensas iniciações, que, como a teosofista, fabricam Arhats a seu capricho, ou como algumas maçônicas, que fazem "Sacerdotes Pontífices" e ''Príncipes Onipotentes" pela graça de uma boa cotização monetária, são fraudes a expensas das ilusões e da imbecilidade humanas; truques, enfim, destinados a enganar ao próximo, sem melhores resultados do que os que se conseguem com os rituais litúrgicos, maquinalmente encenados em diversas Igrejas, para encantamento da emotividade mórbida das almas raquíticas. Tais iniciações, para infelicidade de seus recipiendários, não alcançam à Consciência nem têm a menor validade espiritual. Porém, isto sim, às vezes se verificam em médio a psiquismos desajustadores que obnubilam a mente.
Esta singela exposição a respeito das condições do Discipulado, isto é, da genuína Iniciação Espiritual, ha de causar irremediável reboliço nos círculos chamados místicos e ocultistas, onde se têm os Mestres de Sabedoria como entes fantásticos, crença que se baseia em tradições religiosas amaneiradas ou em simples lendas de turistas que, levados pela Agência Cook, percorreram, a passos largos, as rotas da Asia; ou então, fundamentadas nas historietas interessadas dos "ministros do Senhor" que nunca souberam resistir à inveja, quando no nos relatos grotescos dos "'beachcombers" que chegam às praias de Bombaim, de todas as latitudes do mundo, saturados por misticismos mórbidos.
Mais ainda: esta exposição é sensata e honesta, a tal extremo de que nem sequer cabe tê-la como interessada ou de propaganda, pois não contém o mais ínfimo ápice de noção controvertível ou de expressão convencional. De fato, é a primeira publicação verdadeiramente iniciática que se entrega ao público, porquanto foi escrita por um autêntico Mestre de Sabedoria, em pessoa, e para o uso privado dos Discípulos.
Os verdadeiros discípulos constituem o verdadeiro ouro espiritual do mundo. São constelações celestiais que se movem, anônima e humildemente, em médio à espécie humana, pondo em evidência o poder inconfundível do Império Secreto do VERBO ETERNO. A condição do Discípulo, pois, fora de toda inferência mística ou filosófica, constitui em si um privilégio de caráter cósmico, e, ao mesmo tempo, representa o exército criador da vida superior do mundo. Dedicar-se à vida espiritual já é um protesto ciclópico de almas bem-nascidas ou a renúncia que formulam ante as condições repugnantes de uma vida grotesca e superficial. E é que o Discípulo, cedo ou tarde, chega a saber que as forças espirituais agem constantemente, apesar das circunstâncias do momento, e, por conseguinte, a Verdade deve triunfar, não importam quais sejam os baluartes dogmáticos ou as trincheiras doutrinárias que se lhe oponham.
Os Discípulos hão de ter presente, se são deveras sinceros, que o genuíno Mestre deve triunfar sempre, pois não se deixa vencer por nenhuma espécie de circunstâncias. Um Mestre que fracasse é algo tão irrisório e desolador como um ser humano vulgar incapaz de resistir às implicações da vida humana. Um Mestre Espiritual que não triunfe em suas aspirações e nos termos de sua missão, não é Mestre Universal, nem é digno de figurar como enaltecedor da humanidade.
Os autênticos Discípulos, igualmente como os sóis do espaço, têm uma missão vita1 que cumprir e devem agir de maneira intensa e efetiva em seu próprio meio arnbiente, a fim de serem genuínos veículos dos ensinamentos espirituais, que vão recebendo, e expoentes vivos das experiências que vão adquirindo. Sua própria condição de Discípulos os constrange a cumprir uma missão ecumênica inevitável, porque ninguém pode progredir sem promover o progresso alheio. Servir é enobrecer-se. Todo o discípulo é, por este fato, e por direito próprio, membro da Grande Fraternidade Universal Branca. Mas esta condição exige dele uma atuação sincera e generosa de caráter excepcional, e, portanto, está obrigado a ser expressão viva do Alento Universa1 que acha na Aura do Mestre. No Oriente, o genuíno discípulo "senta-se aos pés do Mestre", em demonstração de humildade e verdadeira e incondicional dedicação espiritual; no Ocidente se diz simplesmente que se encontra na Aura do Mestre.
Há uma herança secreta das idades pretéritas, que todas as religiões e filosofias trataram de descobrir, sem muito êxito, mas que de todos os modos ofereceram, à base de promessas e contribuições, a seus paroquianos e aderentes; mas sempre em vão, para maior desespero dos próprios interessados. Provas de seus fracassos, temo-las de forma muito óbvia, na atualidade, em que toda a espécie humana se debate em médio a paixões cruentas e a exaltações desquiciado rãs, entregando-se à destruição e ao fratricídio mais desolador. O quê fizera estas organizações, todos estes sistemas de “perfeição" e de "ensinamento divino", para evitar o desconjuntamento de todos os "ismos" e o fracasso de todas as instituições consagradas pelas idades periclitantes, ou então, para impedirem as saturnais surgidas ao fragor dos mais brutais impulsos humanos? A resposta é categórica: Nada.
O Discípulo é uma pessoa que, por suas disposições e ânsias excepcionais, persegue sua própria superação, e nisto constituem protótipo vivo de Super-Homem. O Mestre, em troca, pode se dizer que é um modelador cósmico, que age à maneira de arquétipo divino. Esta obra, em que colaboram Discípulo e Mestre, é a verdadeira iniciação esotérica.
E a presente exposição tem por objeto revelar o verdadeiro sentido destas questões transcendentais, que sempre hão de interessar às almas bem-nascidas e aos corações purificados pela dor intensa, ou àqueles que acertam ao lembrarem-se de sua pátria celeste, que é o Reino do Espírito; enfim, àqueles que despertam para os requerimentos de seu EU eterno.
Todo aquele que leia esta obrinha com sinceridade e séria devoção e com a intenção decidida de encontrar a essência e a validade da Natureza, achará nesta leitura um tesouro inesgotável para as suas melhores meditações. Oxalá que os olhos que pousarem sobre estas páginas tenham a preparação suficiente para se aprofundarem nos mistérios do Infinito, e que as mãos que se juntem, aqui, saibam elevar-se com fervor místico para o verdadeiramente Superior do Universo.
Este livrinho não "comunicará" a ninguém o Poder Espiritual que o inspira, mas de todos os modos servirá de mediador entre o estudante sincero da Natureza e amante da Verdade, e o Mestre que há de dirigi-lo, a fim de que possa reintegrar-se ao sublime Verbo Eterno, que é o sagrado e único Alento da Vida.